Embarque connosco numa viagem no tempo a Évora, no centro do Alentejo.
Numa era distante, antes mesmo do despontar das civilizações, um lugar misterioso atraía e encantava os seres humanos.
Uma terra que abrigou segredos ancestrais e que sobreviveu, como poucas, ao inexorável avanço do tempo. Que testemunhou eventos históricos tão épicos como os narrados na mais fantástica das sagas, com personagens reais inesquecíveis.
Para quem é fã de epopeias históricas e fantasistas do tipo Guerra dos Tronos ou O Senhor dos Anéis, esta é uma jornada verdadeiramente única, emocionante e imperdível.
Gruta do Escoural
A viagem começa numa era antes de a própria história ser escrita.
A Gruta do Escoural emergiu como um refúgio para os primeiros habitantes da região. Nelas, foram registadas marcas na forma de impressionantes pinturas rupestres. São equídeos, bovídeos e caprinos que eternizam o passado e nos ligam à essência ancestral da atividade humana.
Composto por várias grutas e salas subterrâneas, o local foi ocupado por caçadores-coletores que aqui se abrigavam. Os vestígios arqueológicos mais antigos identificados remontam ao Paleolítico Médio (47 000 a.C.). Muito mais tarde, cerca de 3.000 anos antes de Cristo, a gruta foi usada como necrópole coletiva. Foram encontrados recipientes cerâmicos, artefactos de pedra lascada e polida, elementos de adorno em pedra, osso e conchas datados desta época. Depois, com a instalação de um povoado fortificado no topo da colina, a gruta foi encerrada. Só em 1963 foi descoberta, por acaso, por um grupo de trabalhadores. É classificada como Monumento Nacional.
A Gruta do Escoural fica no município de Montemor-o-Novo, a cerca de meia hora de carro de Évora.
Cromeleque dos Almendres
Será um Stonehenge ibérico? Um sinal para uma Odisseia no Espaço? Um trabalho esquecido por Obelix? Ou ovos de dragão petrificados?
Quando nos deparamos com 95 monólitos de pedra dispostas em círculo no meio do Alentejo, será realidade ou fantasia? O cromeleque dos Almendres está datado entre 4000 a.C. – 3000 a.C., com estacas de forma almendrada, algumas com 2,5 metros de altura, erguidas pelos antigos povos que aqui viveram.
Não há como evitar uma sensação de deslumbramento e mistério, onde antigos druidas terão desempenhado rituais importantes. Pela sua dimensão e estado de conservação, este é considerado um dos conjuntos megalíticos mais importantes da Europa.
O Cromeleque dos Almendres está localizado a 17 km de Évora.
Templo Romano
Séc. I d.C. Estamos no auge do Império Romano, quando Évora se chamava Liberalitas Julia e florescia em todo o seu esplendor.
Legiões vindas de Roma expandiam e mantinham as fronteiras do império em redor do Mediterrâneo, enquanto subjugavam povoações e construíam (ou mandavam construir) cidades, estradas e monumentos.
No extremo oeste do território conquistado, no ponto mais alto da acrópole, no centro do fórum, erguem um grandioso templo retangular, com majestosas colunas coríntias.
Durante séculos, foi conhecido como Templo de Diana, a deusa da caça. Sabe-se hoje que terá sido erigido em honra de Júpiter, e não da sua bela filha. Mas o nome ficou para sempre gravado na memória popular.
Menos nobre serão as funções que lhe foram sendo atribuídas, entre as quais de celeiro, torre militar, casa-forte e açougue.
Atualmente protegido contra esses usos impróprios, o templo romano está localizado no centro histórico da cidade de Évora.
Praça do Giraldo
Eis que chegamos ao séc. XII e à própria fundação da nacionalidade.
Geraldo Geraldes é uma daquelas figuras à volta das quais se constroem as lendas.
Foi companheiro de armas de Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. Guerreiro valente, mas bruto e com mau feitio, ofereceu-se como voluntário para conquistar Évora para os cristãos. Entrar muralha adentro, degolar o governador mouro e oferecer a cidade ao seu rei foi tarefa fácil.
Voltou às batalhas, lutou e quis ir mais além, para o norte de África, onde acabou por ser morto.
A Praça do Giraldo é uma homenagem a esta figura mítica, um local onde hoje podemos ficar calmamente sentados na esplanada, sem vestígios da violência de outrora.
Fica a apenas 600 metros do monumento anterior.
Largo da Porta da Moura
A Idade Média foi uma época complicada.
Pode não parecer, com a tranquilidade que agora domina, mas o Alentejo já assistiu a cenas mesmo selvagens.
Havia romanos, muçulmanos, visigodos e cristãos a lutar uns com os outros. Havia reis cristãos a lutar entre si. Havia conquistas e reconquistas, zangas, alianças e guerrilhas. Havia figuras históricas – primos, cunhados, pais e mães, filhos e irmãos – bem versadas na arte da guerra, que tudo fizeram para usar uma coroa e dominar o território.
A Porta da Moura é um dos locais que melhor definiu o crescimento urbano.
No centro do largo, está a fonte que abastecia de água população e viajantes. “A cousa mais nobre que há nesta cidade”, chama-lhe o Cardeal-Rei D. Henrique, que foi arcebispo de Évora e mandou construir o chafariz em 1556.
“Por quem o rochedo se mudou em lençol de água, e a pedra em fonte de água viva”, lê-se na faixa alegórica da esfera de mármore com quatro carrancas de serafins.
O Largo da Porta da Moura fica a 4 minutos a pé do Templo Romano.
Universidade de Évora
“Honesto estudo com longa experiência misturado”
O lema da Universidade de Évora não podia ser mais verdadeiro. Pelo menos no que se refere à longa experiência, uma vez que foi fundada em 1559. Foi a segunda universidade portuguesa (a primeira foi a de Lisboa, fundada em 1288 e transferida para Coimbra em 1537).
Enquanto bastião do saber, farol do conhecimento, fonte de inspiração para estudiosos, a Universidade de Évora funcionou exatamente durante dois séculos, sob a orientação da Companhia de Jesus. Com a expulsão dos Jesuítas, foi encerrada e só voltou a educar em 1973.
Hoje tem diversos cursos de Artes, Ciência e Tecnologia, Ciências Sociais e Saúde, a nível de licenciaturas, pós-graduações, mestrados e doutoramentos.
A sede da Universidade está localizada no Largo dos Colegiais, dentro das muralhas da cidade.
Capela dos Ossos
Chegamos, por fim, ao ano de 1986, quando Évora é agraciada com o título de Cidade Património da Humanidade pela UNESCO. O melhor exemplo de “cidade de ouro” do séc. XVI, época das grandes expedições marítimas portuguesas.
Passear pelas ruas de Évora, com os seus arcos medievais e casas caiadas, é mesmo como folhear um livro de lendas encantadas e assistir ao lento passar de alguns dos maiores eventos que fazem parte da História de Portugal. Se mantiver os sentidos bem atentos, irá perceber como cada pedra e cada fachada contam episódios de um passado por vezes conturbado, outras vezes glorioso.
Depois de atravessarmos séculos e séculos de história nesta breve jornada, sabemos que há muitos outros tesouros a serem descobertos.
Quem quiser prosseguir nesta viagem no tempo a Évora, alto!
É preciso trazer espírito de aventura, curiosidade natural e respeito pelos locais sagrados. Se o seu coração for puro e a vontade indomável, não temos dúvidas que irá desvendar outros tantos segredos épicos da cidade.